10.5.03
Manifesto Anti-Dantas
Basta pum basta
Uma geração, que consente deixar-se representar por um Dantas é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indígnos e de cegos! É uma resma de charlatões e de vendidos, e só pode partir abaixo de zero!
Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim!
Uma geração com um Dantas à proa é uma canoa em seco!
O Dantas é um cigano!
O Dantas é meio cigano!
O Dantas saberá gramática, saberá sintaxe, saberá medicina, saberá fazer ceias pra cardeais, saberá tudo menos escrever que é a única coisa que ele faz!
O Dantas pesca tanto de poesia que até faz sonetos com ligas de duquesas!
O Dantas é um habilidoso!
O Dantas veste-se mal!
O Dantas usa ceroulas de malha!
O Dantas especula e inocula os concubinos!
O Dantas é Júlio!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas fez uma soro Mariana que tanto o podia ser como a soror Inês ou a Inês de Castro, ou a Leonor Teles, ou o Mestre d'Aviz, ou a Dona Constança, ou a Nau Catrineta, ou a Maria Rapaz!
E o Dantas teve claque! E o Dantas teve palmas! E o Dantas agradeceu!O Dantas é um ciganão!
Não é preciso ir pró Rosiio pra se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro!
Não é preciso disfarçar-se pra se ser salteador, basta escrever como o Dantas! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrizinho, basta ser muito delicado, e usar coco e olhos meigos! Basta ser Judas! Basta ser Dantas!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas nasceu para provar que nem todos os que escrevem sabem escrever!
O Dantas é um autómato que deita pra fora o que a gente já sabe que vai sair... Mas é preciso deitar dinheiro!
O Dantas é um soneto dele-próprio!
O Dantas em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum.
O Dantas nu é horroroso!
O Dantas cheira mal da boca!
Morra o Dantas, morra! Pim!
O Dantas é o escárnio da consciência!
Se o Dantas é português eu quero ser espanhol!
O Dantas é a vergonha da intelectualidade portuguesa! O Dantas é a meta da decadência mental!
E ainda há quem lhe estenda a mão!
E quem lhe lave a roupa!
E quem tenha dó do Dantas!
E ainda há quem duvide de que o Dantas não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero!
(...)
A única consolação que os espectadores decentes tiveram foi a certeza de que aquilo não era a sorôr Mariana Alcoforado mas sim uma merdariana - aldantascufurado que tinha cheliques e exageros sexuais.
Continua o senhor Dantas a escrever assim que há-de ganhar muito com o alcufurado e há-de ver, que ainda apanha uma estátua por um ourives do Porto, e uma exposição das maquetes para o seu monumento erecto por subscrição nacional do Século a favor dos feridos da guerra, e a praça de Camões muda em praça Dr. Júlio Dantas, e com as festas da cidade pelos aniversários, e sabonetes em conta "Júlio Dantas", e pasta para os dentes, e graxa Dantas para as botas, e comprimidos Dantas, e autoclismos Dantas e Dantas, Dantas, Dantas... e limonada Dantas - magnesia.
E fique sabendo o Dantas que se um dia houver justiça em Portugal todo o mundo saberá que o autor dos Lusíadas é o Dantas que num rasgo memorável de modestia só consentiu a glória do seu pseudónimo Camões.
E fique sabendo o Dantas que se todos fossem como eu haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar.
Mas julgais que nisto se resume a literatura portuguesa? Não! Mil vezes não!
Temos além disto o Chianca que já fez rimas para Aljubarrota que deixou de ser a derrota dos Castelhanos para ser a derrota do Chianca!
E as pinoquices de Vasco Mendonça Alves passadas no tempo da avozinha! E as infelicidades do Ramada Curto! E o talento insólito do Urbano Rodrigues! E as gaitadas do Brun! E as traduções só para homem do ilustríssimo excelentíssimo senhor Mello Barreto! E o Frei Mata Nunes Moxo! E a Ines sifilítica do Faustino! E as imbecilidades de Sousa Costa! E mais pedantices do Dantas! E Alberto Sousa, o Dantas do desenho! E os jornalistas do Século e da Capital e do Notícias e de todos os jornais, todos os jornais! E os actores de todos os teatros!
E todos os pintores das belas artes, e todos os artistas de Portugal que eu não gosto! E os da Águia do Porto e os palermas de Coimbra! E a estupidez de Oldemiro César e o Doutor José de Figueiras Amante do museu o ah! oh! os Sousa Pinto e os burros de Cacilhas e os menús de Alfredo Guisado! E o raquitico Albino Forjaz de Sampaio, crítico da Luta a que o Fialho com imensa piada intrujou de que tinha talento! E todos os que são políticos e artistas! E as exposições anuais de Belas Artes! E todas as maquetas do Marquês de Pombal e as de Camões em Paris! E os Vaz, o Estrela, os Lacerda, os Lucena, os Rosa, os Costa, os Almeida, os Camachos, os Cunhas, os Carneiros, os Barros, os Silva, os Gomes, os velhos, os idiotas, os imbecis, os párias, os ascetas, os arrangistas, os impotentes, os acelerados, os Lopes, os Peixotos, os Mota, os Godinho, os Teixeira, os Camar, o diabo que os leve, os Constantino, os Grave, os Mantua, os Bahia, os Mendonça, os Brazão, os Alves, os Albuquerques, os Sousa, e todos os Dantas que houver por aí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E as convicções urgentes do homem Cristo pai e as convenções catitas do homem Cristo filho!...
E os concertos do Blanch! E as estátuas ao leme! ao Eça e ao despertar de tudo! E tudo o que seja arte em Portugal! E tudo! Tudo por causa do Dantas!
Morra o Dantas, morra! - PIM!
Portugal que com todos estes senhores conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degredados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus!
O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de assedado!
Morra o Dantas! Morra! - PIM!
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS
POETA D'ORPHEU, FUTURISTA E TUDO
1915
18:35
Blogger que te pariu
O artigozinho logo em baixo, de um tal A.R., padece de algumas pequenas lacunas, não só indiciadoras de grande falta de cuidado na escrita como de muito perceptível confusão técnica; a infoexclusão é, de facto, um indício de ignorância. Se bem que todos saibamos ser possível qualquer mentecapto fabricar as suas paginazitas na Web, praticamente, e se calhar isso até é a esmagadora e revoltante maioria, sem saber ler nem escrever.
Bem sei que este artigozinho do DN há-de aparecer citado, transcrito ou apenas referenciado em tudo quanto é weblog. Longe de mim a ideia de estar agora a maçar as pessoas com minudências, mas algumas correcçõezinhas se impõem. E umas observaçõezinhas também.
- JPP não abriu "esta semana o seu diário ao público " coisa nenhuma; são dois conceitos e duas técnicas diferentes, o weblog (neste momento, está a ler um destes) e o e-diário (ver o que é em http://www.diariodigital.pt/ediario/).
- O verbo "dirigir-se" aplica-se a repartições de Finanças, esquadras da Polícia, etc.; "deve dirigir-se ao seu Banco" é perfeitamente aceitável; "Basta dirigir-se a um dos muitos portais.. " (sic) é que não, pá. O que é "dirigir-se" na web? E "portais", chefinho? Portais??? Não, aqui não há disso. É procurar no Sapo, na Google, na Cena Lusófona, etc. "Portal", aplicado apenas a "sites", não a weblogs, é um termo castelhano. De facto, com um bocadinho de elasticidade e muita boa vontade, poder-se-ia considerar o Blogo como algo semelhante a um "portal"; já o blogs em PT é um simples índex, sem qualquer automatismo (motor de busca, spider robots, base de dados, formulários, indexação automática, coisas assim).
- Misturar "portais" como o dito Blogo e o Cruzes Canhoto é, no mínimo, ligeiríssimo. Já agora, pelo mesmo caldinho, os Marretas são também um "portal". Fica sabendo, ó Animal; bem podes comemorar partindo mais uma bateria.
- "...neste mundo que se aproxima muito daquilo que em tempos foram os jornais de parede...", ena, que pinta. Ó bálhamedeus. Se o que era preciso, para encher a colunazinha, era uma frasezita de cariz "literário", talvez tivesse sido melhor não arriscar; quando muito, este "mundo" aproxima-se um bocadinho das portas de WC público, das paredes do Metro ou do quadro negro do Liceu antes de a Setora chegar. É o "mundo" da "pichagem" e da boca foleira, nada de muito sério. Felizmente.
- E o homem persiste no literatismo, ou seja, na asneira, e diz que esta coisa "se situa a meio caminho entre um chat e a interactividade que é proporcionada por um site". A meio caminho? Outra vez ena. Que pinta, de novo. Mas qual meio caminho, qual caroço! E qual "chat" e qual "site", qual carapuça. Isto é um caminho novo em folha, portanto ainda não tem meio.
- O que escrevi aqui há dias ( 29 de Abril) fica amplamente confirmado pelo teor amiguista do artigozito. O rapaz menciona jornalistas, como ele (?), escritores e professores universitários. O critério óbvio é o do costume: you suck me, I suck you. Referir a Coluna Infame, como se fosse por acaso, e não referir a Paragem de Autocarro (este, ao menos, é agradável) ou A Cagada (este, ao menos tem piada), por exemplo, é demasiado óbvio. Ou, ainda, os exemplos poderiam ser muitos, o O meu pipi (este, ao menos, é de um gajo se mijar a rir).
- Não tenho tempo nem pachorra para corrigir o Português daquilo, mas há um neologismo em Inglês sinceramente intrigante: afinal, e eu que pensava que sabia, o que diabo será "um Blogger"? Parece-me que o rapaz queria significar "uma pessoa que tem um ou vários weblogs", mas duvidemos. Deve ser outra coisa qualquer. Escapa-me.
- A técnica do "choque e terror", aplicada a jornalismo imberbe, dá coisas destas: o próprio José Pacheco Pereira aparece no "títalo" e, após uma brevíssima referência, evapora-se. Ou seja: usar um nome para chamar a atençao. O costume. E nada elegante, nem para os leitores nem para o próprio.
14:46
José Pacheco Pereira em versão «blogger»
ARMANDO RAFAEL
O eurodeputado social-democrata José Pacheco Pereira é a mais recente estrela do universo dos bloggers portugueses, tendo aberto esta semana o seu diário ao público [ www.abrupto.blogspot.com]. A partir de agora, quem quiser saber o que ele pensa ou partilhar dos seus desabafos, bastar dirigir-se àquele endereço, e entrar. Ali ficará a saber que o autor da biografia de Álvaro Cunhal adora a BBC Learning, e terá oportunidade de lhe mandar uma mensagem. Se não gostar de Pacheco Pereira ou das suas divagações, tem muito por onde escolher. Basta dirigir-se a um dos muitos portais já existentes _ marretas.blogspot.com (animado por três professores da Universidade da Beira Interior, na Covilhã), blogo.no.sapo.pt ou cruzescanhoto.blogspot.com, entre outros.
Se optar por um diário de alguém mais conotado com a esquerda pode escolher entre blog-de-esquerda.blogspot.com (do jornalista José Mário Silva) e o www.paisrelativo.blogspot.com (de jovens socialistas como Pedro Adão e Silva e Mark Kirkby). Se quiser opiniões ou desabafos de direita, também há. Em maior número até. Desde a www.colunainfame.blogspot.com (dos jornalistas Pedro Mexia e João Pereira Coutinho) à www.valetefrates.blogspot.com, passando pelo www.fumacas.blogspot.com.
Em alternativa, neste mundo que se aproxima muito daquilo que em tempos foram os jornais de parede, e que se situa a meio caminho entre um chat e a interactividade que é proporcionada por um site, ainda pode ter outras opções de escolha.
Se gosta do estilo e do humor das produções fictícias, tem o www.gatofedorento.blogspot.com, um diário animado por Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela, Tiago Dores e Miguel Góis. Se prefere algo mais literário, então o melhor é dirigir-se à janela-indiscreta.blogspot.com ou, então, ao prazer-inculto.blogspot.com (do escritor Possidónio Cachapa). Caso tenha saudades dos textos e do estilo de Miguel Esteves Cardoso, tem como opção aquilo a que se chama os filhos do MEC, entre os quais contra-a-corrente.blogspot.com.
Depois tudo depende da sua vontade. Ou lê e desliga ou participa e deixa a sua opinião, agora que a intervenção no Iraque já não motiva tantas clivagens entre bloggers, como ainda há pouco era visível, num mundo de páginas, desabafos e opiniões que parece ter explodido em Portugal nos últimos seis meses. Foi um blogger que me garantiu.
DN de hoje
13:09
9.5.03
Num capote embrulhado, ao pé de Armia,
Que tinha perto a mãe o chá fazendo,
Na linda mão lhe foi (oh céus) metendo
O meu caralho, que de amor fervia:
Entre o susto, entre o pejo a moça ardia;
E eu solapado os beijos remordendo,
Pela fisga da saia a mão crescendo
A chamada sacana lhe fazia:
Entra a vir-se a menina... Ah! que vergonha!
"Que tens?" — lhe diz a mãe sobressaltada:
Não pode ela encobrir na mão langonha:
Sufocada ficou, a mãe corada:
Finda a partida, e mais do que medonha
A noite começou da bofetada.
16:15
Patrocínio, finalmente
Se bem que ainda não haja uma decisão definitiva do colectivo BL, já nos foram sugeridos dois patronos e um patrocinador. Os patronos, que por acaso até seriam patronas, são a Senhora da Alheta e a popularíssima Santa Conadoassobio. Já o patrocínio, que incluirá larga subvenção mensal, BMW Z3 (cinzento metalizado), cartão-de-crédito ilimitado e bar aberto no "Central", pois a proposta que temos é nem mais nem menos do que a de Sua Excelência o Sr. Presidente da Câmara de Caldas das Taipas.
Quanto à escolha do patrocinador, tomaremos uma decisão em breve, ainda que outras propostas nos vão chegando, sendo que estas serão também, evidentemente, levadas em conta.
Já quanto ao patrocínio espiritual não residem nas nossas cabeças quaisquer vestígios de dúvidas: aceitamos, penhorados, a oferta (das próprias, mas por interpostas pessoas). Muito nos honra contar com a força de espírito e bom conselho moral da Senhora da Alheta, conhecida pelos seus milagres e pela devoção de todos os aflitos, defenestrados e escapados em geral, em especial dos fugitivos; esta santinha é mesmo a madre adoptiva, e patrona também, da simpática localidade de Partincerta. Infelizmente, algumas pessoas de pouca fé e baixa extracção moral ousam conspurcar esta alta figura, com expressões desviantes como "põe-te" ou "vou-me pôr" na dita; soez e sibilina maneira de se referirem a quem afinal lhes providencia o desiderato, já que o verbo "pôr", assim declinado, "pôr-se em", propicia acepções capciosas e malignas; além de manifestar um muito pobre conhecimento da língua.
E o que dizer da prestigiadíssima Santa Conadoassobio? Nascida no arquipélago de Tuvalu, algures no Pacífico, esta prestigiosa figura litúrgica é popularmente conhecida como Conamaím, senhora das rotas e caminhos, dos viajantes e forasteiros; referência última nas horas de aperto, crê-se ter sido por sua interferência pessoal que os Portugueses se lançaram na saga heróica dos Descobrimentos, dando novos mundos ao Mundo, como conhecemos e reconhecemos ad nauseam usque.
Muito nos honra, por conseguinte, e não será de mais repetir, podermos passar a ostentar, em espírito e em logótipo, tão altos patrocínios. Bem hajam. O BL imbuir-se-á assim, de agora em diante, do verdadeiro espírito de lonjura e exclusão, para já não dizer ascetismo, que sempre o caracterizaram, e simbolizados, de resto, pela efígie de Bocage* - esse urbaníssimo e gentilíssimo poeta.
Por estas e outras de igual calibre, reconhecidamente e pro rata, dizemos a uma só voz: pulsate, et aperietur vobis (Ev. Mateus, 7,7).
* - note-se que Manuel Maria é apenas o nosso mentor espiritual, não patrono e muito menos patrocinador, visto que infelizmente morreu, já lá vão uns anitos.
12:50
8.5.03
And now something completely different
Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:
Não quero funeral comunidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:
Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".
05:55
Nem de propósito...
Não lamentes, oh Nise, o teu estado
Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
Dido foi puta, e puta dum soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:
Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.
Bocage
05:43
Acontece
Um clássico da literatura Portuguesa - "A água" - de Manuel Maria Barbosa du Bocage
Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos,
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche e
lava a boca depois de um broche.
Agora é oficial. O BL passa ao número dos weblogs culturais. Prometemos outras peças de igual calibre e qualidade, no futuro.
Gil Vicente, D. Francisco Manuel de Melo, Zé Cabra, António Botto, e por aí fora, salvo seja. It's a promise, como dizia o excelente Ghandi. Havemos de fazer no BL um acervozinho jeitoso.
05:01
Agora a sério
O póste anterior vai servir, a partir de agora, como glossário. Segundo o critério de pesquisa dos Marretas, posso agora dizer palavra 1 (merda, mas é a última vez que digo), palavra 2 (foda-se, mas nunca mais digo) e palavra 3 (caralho, mas eu não disse), nas calmas, e vós já sabeis, manos.
Por conseguinte, comecemos este belíssimo exercício.
Estou farto de receber mensagens destas, palavra 2! Só me apetece mandá-los a todos para a palavra 3, palavra 2. Mas por que raio há-de alguém pensar que eu tenho a palavra 3 pequena? Hmmm, palavra 2? Ó miudagem, as garinas o que me dizem é o contrário, aquilo é ai que dói, bolas, caramba. (Isto não é grosseiro por aí além, mas também podemos passar a usar estas coisas como palavra 4 e palavra 5, respectivamente.
Bom.
Do que se trata é daquelas coisas que dizem "grouw up your penis" (traduzindo, palavra 3) e que nos enchem a caixa do correio, todos os dias. Já não aturo mais esta palavra 1. Chega. My word 3 is perfectly fine, thank you.
Portantos, publico aqui um daqueles anúncios, a ver se não me chateiam mais com essa palavra 1, palavra 2.
Ok? Tá bem assim? Atão prontos. Ide mas é levar na palavra 6, seus palavra 7.
03:32
Pesquisando
Os Marretas descobriram aqui esta coisada utilizando um critério de pesquisa muito giro: foram-se à Google e escreveram as seguintes "keywords": merda foda-se caralho. Resultado: apareceu o BL; não sei porquê, mas "prontos".
Dá para conferir aqui: http://www.google.com/search?q=merda+foda-se+caralho&sourceid=mozilla-search&start=0&start=0.
Ora ainda bem. Não só isto já me valeu a maior barrigada de riso dos últimos tempos, como é manifestamente motivo para iniciar finalmente o meu projectado e adiado best-seller Vai-te encher da moscas; a saga de um pobre ser-humano (eu) em busca da verdade, ou seja, de como se ver livre das melgas que o rodeiam (a ele, a mim, quero dizer). De sub-título crónicas de um gajo chateado (modéstia à parte, acho o sub-título muito subtil), esta será um dia - pelo menos um - a obra-prima dos iluminados, dos iluministas, dos iluminados e também dos ilusionistas: como fazer desaparecer uma melga em três tempos. "Iluminados" está repetido, não está? Não faz mal, é mesmo assim, é "tipo" Warhol. Coisa fina.
Enfim, já sabemos que muito provavelmente a prima nunca virá a lume (que raio de expressão), mas o que importa é a intenção, e tal. Como em 99,9% dos casos, esta obra ficará infelizmente condenada a não passar do título, o qual, convenhamos, não é nada mal apanhado; note-se o "da", insidioso e meliano (de João de Melo, essa ganda besta; ou talvez mais o intocável laureadíssimo A. Lobo Antunes; atenção ao ponto no A).
Por isto, ou seja, pela estreia blogosférica, os meus cumprimentos e os maiores agradecimentos ao Animal.
02:49
7.5.03
Uma vez sem exemplo
Como as mulheres acham que nós somos.
O que vale é isto não ser meu. Alguém retirou de um site qualquer brasileiro e enviou por e-mail. Mais uma contribuição para o prémio Copy&Paste, merecida e orgulhosamente ostentado pelo BL, e também uma justa homenagem à chamada "causa" feminina. Glup.
14:05
13:20
5.5.03
Jornalismo Desafiado por Novo Formato
Por P.M.M.
Domingo, 04 de Maio de 2003
Tanto o formato "weblog" como o uso que dele é feito tornam importante a questão da sua relação com o jornalismo, e permitem admitir que possa vir a ter algum impacto na forma como o jornalismo é visto pela sociedade. "Para mim, o desafio mais sério que as redacções enfrentam hoje em dia é os leitores pensarem que somos muito irrelevantes para as suas vidas. Isso deve-se em parte ao facto de as redacções não terem transparência nem, pior, interactividade", afirmou Joseph D. Lasica num debate na Escola de Jornalismo da Universidade da Califórnia em Berkeley, transcrito pela "Online Journalism Review". "Os 'weblogs' são uma grande oportunidade para as redacções se tornarem mais transparentes, mais acessíveis", diz também Lasica, um jornalista muito ligado às publicações "on-line" e um entusiasta dos "blogs".
Joseph D. Lasica fazia também eco das preocupações de quem perguntava aos jornalistas "bloggers" como podem ser capazes de publicar uma informação que não confirmaram, ao que ele responde: "Faço o mesmo que todos os 'bloggers', e penso que não há mal em passar dicas ou rumores, desde que fique claro o que é que sei ser verdade, aquilo de que não tenho a certeza e aquilo que ouvi de outros utilizadores. É mais um diálogo ou uma conversa do que um registo oficial."
Rebecca Blood, uma "blogger" veterana, autora de "The Weblog Handbook" (ed. Perseus), é peremptória em recusar que "os comentários pessoais que se encontram na maioria dos 'weblogs' sejam jornalismo". Qual poderá então ser o valor acrescentado dos "weblogs" para o jornalismo? Dan Gillmor, colunista de negócios do "San José Mercury News", considera "espantoso" o "processo de as pessoas se estarem a envolver na criação de informação que é valiosa e frequentemente rigorosa".
"Jornalistas que mantêm "weblogs" em 'sites' de notícias dizem que a sua escrita nos 'blogs' tende a ser mais solta", escrevia por outro lado David F. Gaallagher em Setembro no "New York Times". No mesmo artigo, dizia-se que "os 'blogs' foram promovidos por alguns comentadores como uma ameaça potencial às empresas tradicionais de comunicação social". "Jornalistas amadores são capazes de criar 'links' e dissecar artigos recém-publicados, acrescentando muitas vozes ao debate nacional."
Mas já houve pelo menos um jornalista que se meteu em problemas por "blogar". Steve Olafson, do "Houston Chronicle", manteve um "weblog" utilizando um pseudónimo e foi despedido quando a sua identidade foi conhecida pela empresa. "O sr. Olafson disse que (...) o seu patrão lhe disse que ele comprometera a sua capacidade para fazer o seu trabalho", conta o "NYT". Olafson usava por vezes o seu "site" para ridicularizar políticos locais que cobria, e chegou a criticar o "Houston Chronicle".
"Se o Google introduzisse um instrumento de busca mais eficaz [no Blogger.com], seria mais fácil encontrar os melhores 'bloggers', o que os ajudaria a emergir como definidores de tendências e a moldar a opinião pública - papéis tradicionalmente cumpridos pela comunicação social de massas", escreveu Michael Liedtke na Associated Press. "Darwinismo de conteúdos" é a expressão de Chris Cleveland (gestor de uma empresa de Chicago produtora "software" de busca que recentemente trabalhou com a Blogger.com) para classificar um possível processo que puxaria as notícias e as perspectivas mais interessantes para o primeiro plano do "blogging".
Há também visões menos animadoras do que pode ser o futuro do "blogging". Nesse cenário, o resultado seria uma espécie de cruzamento entre a TV-realidade e um leilão "on-line". "Isto é a e-Bayzação dos 'media'", diz Tony Perkins, ex-editor de uma revista de tecnologia que lançou um negócio através de um "blog", também citado pela AP. "Cria-se uma arena interessante e depois deixa-se o entretenimento vir dos próprios participantes."
POL | Media | Jornalismo desafiado por novo formato
01:49
Empresas Preparam Possibilidade de Massificação dos "Weblogs"
Por PAULO MIGUEL MADEIRA
Domingo, 04 de Maio de 2003
Se a palavra entre aspas no título nada lhe diz, pode ser que este texto lhe interesse. Quando empresas como a América Online (o maior fornecedor de acesso à Internet nos EUA, com 35 milhões de subscritores), a Google ou a Terra Lycos, que gerem motores de busca da Internet, se começam a preocupar em fornecer aplicações informáticas para a edição de "weblogs", então estamos em presença de um fenómeno em massificação.
Imagine que precisa de se informar sobre a pneumonia atípica que surgiu na China - cuja designação técnica é "síndrome respiratória aguda" - e descobriu que um professor catedrático de Medicina de Hong Kong que se interessa pelo assunto mantém um "weblog" que lhe é dedicado. O que pode esperar encontrar é um conjunto de entradas, com a mais recente no topo, onde se faz referência às novidades consideradas mais importantes e/ou interessantes nesse domínio e "links" que remetem para os locais da rede onde elas se encontram.
Entre essas novidades tanto se podem encontrar os novos casos que se vão registando dia a dia como comentários às notícias sobre uma sondagem em que foi perguntado à população se tinha receio de contágio e que precauções estava a tomar. Visto tratar-se de um "site" mantido por um especialista, é de esperar que as referências encontradas sejam interessantes e que os "links" contemplem o que de mais vanguarda se possa encontrar sobre a questão.
Cerca de 660 em português
Este tipo de "sites", que em 1998 não passavam de uma dúzia, tem crescido a forte ritmo. Actualmente estão listados mais de dez mil, dos quais 660 em português, no portal eatonweb.com, o primeiro directório de "weblogs" que apareceu. Muitos "weblogs" não terão interesse para a generalidade das pessoas, mas podem ser bastante apelativos para um pequeno grupo com um interesse muito específico, ou com perspectivas muito minoritárias.
Uma breve digressão pela literatura sobre "blogs" (abreviatura por que também são conhecidos) permite perceber que nem só grandes empresas da Internet se aperceberam de que eles se estão a tornar, ou estão a ser chamados a tornar-se, um fenómeno de massas no mundo "on-line".
Os "weblogs" começaram por ser páginas pessoais na Internet que constavam essencialmente de listas de "links" para sítios pouco divulgados com assuntos de interesse do seu proprietário e para artigos noticiosos. Esses "links" eram normalmente acompanhados por breves descrições e um comentário do editor do "weblog".
Os primeiros "bloggers" (a palavra que designa os editores dos "weblogs") eram entusiastas da rede, que ou aprenderam código HTML para se divertirem ou eram profissionais que se dedicavam aos seus "sites" depois do trabalho, conta Rebecca Blood no seu rebecablood.net, onde tem um pequeno ensaio sobre a história dos "weblogs". "Um editor com algum domínio de um determinado campo pode mostrar a exactidão ou inexactidão de um determinado artigo ou de alguns dos factos mencionados; pode fornecer factos adicionais que considere pertinentes para o assunto em questão; ou acrescentar uma opinião ou um ponto de vista diferente daquele da peça para a qual estabeleceu um "link". O seu comentário é tipicamente caracterizado por um tom irreverente, por vezes sarcástico", diz também Rebecca Blood.
Os "weblogs" podem assim ter uma função de filtro da rede. Isto é, o seu editor navegou por sítios que sabe dedicarem-se a determinado(s) assunto(s), explorou mais uns que ainda não conhecia e viu nos "sites" de notícias o que havia de interesse sobre a questão. A sua selecção pode poupar tempo substancial a outros aficionados, por exemplo de touradas ou de jornalismo "on-line".
Corria a história desta maneira quando, em Agosto de 1999, a Pyra Labs, de São Francisco (Califórnia), lançou o Blogger.com - um "site" que disponibiliza "on-line" os instrumentos de "software" que permitem a qualquer internauta lançar o seu próprio "weblog". O serviço básico do Blogger é gratuito e, para quem não o tenha, também cria o seu "site" pessoal na Internet.
O resultado óbvio é que o universo de potenciais "bloggers" passou a coincidir com o de indivíduos com ligação à Internet, e a perspectiva de negócio começou a tornar-se incontornável. "Queremos pegar no que tem sido um fenómeno subterrâneo e apresentá-lo às massas", disse o director de marketing de produto da Terra Lycos, Charles Kilby, citado pela agência AP.
As facilidades do Blogger.com, que permitem colocar texto "on-line" quase imediatamente, explicam segundo Rebecca Blood a mudança do "weblog" de tipo filtro para o de tipo jornal, que algures pelo caminho passou a ser mais conhecido por "blog". Quando o Google comprou a Pyra Labs, no ano passado, o Blogger.com tinha 1,1 milhões de utilizadores registados, segundo o SiliconValley.com, duzentos mil dos quais com "blogs" activos.
Público, 04.05.03
01:47
4.5.03
O outrosismo
A besta voltou. O nome mete medo: chama-s e «sóacontec'aosoutros». É o outrosismo.
Deixem que vos conte a história.
Não o via há três anos. É uma daquelas pessoas a quem atiramos pronomes _ o meu melhor, um dos meus melhores amigos _, embora a vida teime em nos atirar para direcções opostas. Nos encontros irregulares, ditados por vontade irreprimível ou pelo acaso das circunstâncias, somos efusivos nos abraços e desfiamos episódios do passado. Coisas simples: as noites loucas em casa do Jorge, uma volta à Europa de boleia ou os fins-de-semana na casa velha a ver o mar. Coisas boas chamadas vida, que tivemos a sorte de conhecer (sorte, sim).
Telefonou-me, a voz sombria e uma urgência escondida. Forcei o encontro. O que seria? Na vez anterior estava em forma. Falara-se da sua vida, director-geral daquela grande empresa, as namoradas da moda e as fotografias do social. Com evidente prazer desfiara nomes de gente conhecida que tratava por tu, deixara cair lugares, sucessos... Quando desta vez o vi, a alma amarrotada a assumar-lhe aos olhos, soube que mudara. Impecável e sem vincos, a roupa tinha um ar cansado. Encomendámos o jantar e logo ele declarou, solene, que as coisas iam mal. E prosseguiu, sem deixar cair a surpresa:
«Fiquei desempregado há três anos, pouco depois do nosso último encontro. O patrão ofereceu-me um adjunto, primo da mulher. Que remédio tive senão aceitar. Ao fim de um mês estava montado o inferno. Eu fiz a católica com o patrão, por isso decidi pôr as coisas a limpo: ou ele ou eu. Vim para a rua. Com o dinheiro que recebi, achei por bem parar uns tempos. Namorava a Vera, lembras-te dela? (não me lembrava), íamos casar, assentar finalmente. E viajámos. Gastei milhares de contos, foram óptimos tempos. Estava convencido que mal estalasse os dedos meio Portugal me daria emprego.»
Falava sem tréguas, o risotto a arrefecer no prato. Eram ásperas, as palavras do meu amigo. Lembravam-me diálogos dos clássicos, Eça, Balzac (ou seria Flaubert?), imagens diferentes das vidas de plástico descritas pelos escritores pop do século XXI português.
«Quando dei por mim acabara-se o dinheiro. E não arranjei nada. Estou desempregado há dois anos. A Vera fugiu. Os amigos de outrora, meus pares, só atendem o telefone uma vez _ a primeira. Telefona para a semana, dizem, e somem-se para sempre num mundo onde reinam secretárias de guarda e em que há reuniões contínuas. Estou desesperado. Tens de me ajudar.»
É isto. Acabaram-se as festas e os fins-de-semana prolongados. O meu amigo multiplicou-se: são cada vez mais os que perdem o emprego, esperam notícias, aqueles a quem ninguém atende o telefone. Guiavam topo de gama, deslocam- -se no utilitário das mulheres. Eram importantes, são zés-ninguéns. Tinham estatuto, estão nus perante a sociedade.
Volto para casa. Agarro-me ao que tenho, como um avarento. Do meu sofá, vejo os miúdos a brincar. E penso no meu amigo. Felizmente, só acontece aos outros!
psande@mail.telepac.pt
DN, 03.05.03
19:16
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